Foi o livro das Despedidas de Emilio Araúxo, as maos em alto a dizer adeus 0- imaxe de moncho xácome Prieto

Foi a fotografía das maos da avoa de Duarte a amassar

Fôrom as maos de Carme, tímidas ao seu pé:

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Foi umha velha fotografia que nom conseguim meter noutra crónica, os dedos de Xes tapando a saída da água da mangueira que faziam sair pingas para todos os lados e molhavam as bocas abertas de alegria de verao:

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Foi o falar coas maos, que também sabemos.

Foi ter perdido muitas das fotografias do ano passado e repensar o que retratamos e o que mostramos.

Foi todo isso e o apetecer, que é cousa dumha, que decidim entregar esta crónica com palavras e imagens das maos para contar-vos com elas de nós.

E começo com a imagem das despedidas, elevando a mao e dizendo um adeus (que nom o é) a Andeca e Simón, duas das nossas Sementes que andan a sachar a terra da Torreira.

E despois das despedidas chegaron as boas vindas, acolhemos a Nadia e o Alán de maos e braços abertos neste novo ano, entre panos de algodom, literalmente falando

Mas de onde vem o algodom?

Todos os panos som de algodomn?

Esperai…e a seda? Nós temos vermes da seda… mas penso que isto que estou a tocar é picote (O meu benquerido Manuel tivo a bem dar-me muitas mostras de tecido, e também um agasalho dum livro com o processo da seda que trouxo de Portugal, el que sabe tanto disso. Obrigada, Manuel)

Vaia! Como o da cançom…

Dorme minha nena dorme

Hei-che mercar um mantelo

Um corpinho de picote

Que já está vindo o inverno…

Olha mas a minha camisola dixo minha mae que é de lá… e de onde vem entom a lá?

E foi assi que começamos a investigar algo sobre os tecidos, as procedências, a pôr e tirar panos, ver teares, observar as roupas das companheiras, …

Fuco veu-me hai um par de dias com um e perguntou de onde vinha, se era português ou de África… Non sei, respondim-lhe.

Que pouco sabemos de onde venhem as cousas.

Os tecidos tocam-nos e fazemo-los com as maos, agora já nom tanto.

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A horta vê-se com s olhos, come-se com a boca mas trabalha-se com as maos.

Lembro a delicadeza de Lea colhendo um dos repolos rizados que trouxo Marga antes de plantá-lo e também a fila de maos trabalhadoras do Fuco, do Xes, do Duarte metendo-as no rego que abrimos juntas.

E crescêrom, e recolhemo-las com as maos e preparamo-las com as mans, ao forno, com a receita que nos dérom María e Miguel, e com as maos levamo-las à boca e que boas.

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Sobre a receita:

Cortar as folhas, pô-las num tabuleiro de forno

Preparar um molho com azeite, sal e limom exprimido e misturar com a verdura

Pré-aquecer o forno e meter todo até vermos que a cousa trisca.

Tirar do forno e comer com as maos

Assi a olho, que era como dava as receitas miha avoa. Já vos vai pedindo o sentido comum…

Cada sexta -feira tentamos fazer algum obradoiro de cozinha, com eles fazemo-nos conscientes do que comemos, de onde venhem as cousas, os processos de preparaçom, conhecemos o meio, saímos comprar ou pedir as cousas que precisamos, trabalhamos o fazer, e alimentamo-nos com todo, também literalmente.

Elvi a tia da Iria voltou a trazer caramujas, que é como as chamam em Esteiro. Pesamos a saca gigante e figemos partes iguais para levar à Torreira. Nom vou dizer quem mas havia algum conhecedor da matemática e os repartos equitativos que pretendeu enganar-me para mandar umhas presadinhas de menos para cima… – Já chegam, Vero, já chegam!- dizia.

Pablo, o pai do Fuco, veu fazer um obradoiro de bombóns e pudemos fazê-lo com umhas velas! E depois experimentamos fora com outras cousas que agora nom venhem a conto que tampouco tendes que saber todo, ainda que passamos pipa!

Também as amigas da sala de Marga amassárom e com essa massa nós figemos bolachas com formas de folhas. Queimou-se a primeira fornada, liamo-nos cantando e tocando e…

A segunda já deu mais jeito

Figemos também espetadas de frutas e chocolate, com pam de Lalim que sempre presta.

Agora estamos a ver como medram as nabiças e temos vontade de ir polo caldo.

O ali-oli chama-nos à atençom e por isso preparamos um par de reguinhos para quando for tempo de pôr alhos.

Já iremos informando.

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8 11 9Dizia-vos que a primeira fornada de bolachas foi alá… enredamos cantando. Levamos muito tempo com isto da música. Lea, a irmá de Xío, sempre fica pasmada quando o Xío chega a casa com umha cançom nova. Eu também quando chega à escola com tantas como nom conheço. O Xío é quem de montar um concerto num abrir e fechar de olhos… e assi foi. Andamos investigando todos os sons que podemos fazer com o corpo e também com objetos do quotidiano. A percussom está-nos ocupando grandes jornadas… Escuitai se queredes o tema de Toutom de Xosé Lois Romero e Aliboria, resulta que tocam com panelas, garrafas de anis, conchas, pandeiros, pinhas, bombos e até um charrasco!

Iria levantou-se nada mais vê-lo a colher um par de pinhas do recanto de experimentaçom mas eram algo pequenas, a ver se nos fazemos com umhas a jeito para que nom decaia o concerto

Música que se fai com o corpo, o latejo, com as maos, e leva-se a boa, como na cozinha.

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– E a música também pode escrever-se!

– Já mas nós nom sabemos

– Eu tampouco sei, mas sei que pode escrever-se. E também os vossos nomes e todas as palavras do mundo. E podemos brincar com as palavras, como quando a Nadia lhe escapa umha caca e é umha CACÁSTROFE!

– Pois dIxo-me Carme, Vero, que remolacha rima com bolacha!

– Pois dixo bem, Lía. E tU rimas com alegria.

E pouco a pouco imos descobrindo interesses novos, sem apuro, cada quem ao seu ritmo, cada quem com o seu momento, cada quem no espaço que encontra… Fazendo rimas, lendo poemas (Se nom tendes ainda o livro de Poemas no Faiado, recomendado fica) , repetindo versos, escrevendo com as maos o que sai de dentro, doutros lugares, de nós.

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E continuamos com o dia a dia, com as rotinas, com as saídas polo meio, celebrando as festas, os aniversários, aumentando a nossa autonomia com o quotidiano, perguntando-nos sobre a vida, sobre o que se passaría se…, que se passaria se um dia imos ao mar e nom está? Ou se o lume queima todas as árvores? Ou se só fica um pedaço de pam e somos 22?…, e conhecendo-nos e fazendo grupo e querendo-nos, respeitando-nos a nós, as companheiras e a escola.

E queremo-nos com as maos que alouminham, com as maos quentes que aliviam as frias, também com as sujas que se limpam, com as que recolhem os brinquedos, com as que ponhem a horta, com as que amassam e peneiram e alimentam, com as que cuidam, com as que descbrem plumas e bechos, com as que constroem e com as que pesam e sopesam.

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17 20As maos da Eire, cuidadosas que sustenhem a Aixa

As maos da Lea, bulideiras que fam voar Leoncio polo ar, que vidinha lhe dá!

As maos do Duarte, sempre adornadas, que querem saber como se escreve todo

As maos do Xío, delicadas batendo o tambor que Luis nos agasalhou

As maos da Iria, alegres ao conseguir tirar ela soa as caramujas com um alfinete

As maos da Lía, tímidas nos seus petos nos dias de frio

As maos do Alán, constantes para fechar a mochila da merenda

As maos da Nadia, virtuosas para encontrar e colocar cada peça do quebracabeças

As maos do Fuco, crescidas para fechar só o seu casaco e falar com elas

As maos do Xes, solidárias para ajudar os mais com o que nom podem

As maos da Carme, cantarinas marcardo os movimentos

As maos da Vero, que hoje escrevem lembranças do que fomos e estamos a ser

Fôrom algumhas das cousas com que começava esta crónica as que me levárom a fazê-la assi mas agora penso: E os pés? Que se passa com os pés?

Se calhar isso já é outra história…

Mas adianto que estamos investigando sobre os socos…

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