É umha das principais preocupaçons da Semente luitar polo direito das nossas crianças a aprender e crescer em galego. A própria existência da Semente é o fruto ainda nom maduro dessa preocupaçom e da confluência de várias vontades de pôr fim a umha situaçom insustentável que está a hipotecar o futuro da nossa língua.
A Semente quer galego nas escolas, nos parques, nas ruas, nas casas. Por isso vai apoiar sempre todas as iniciativas sociais que tencionem reverter esta situaçom lingüística e que denunciem publicamente o apartheid que o galego está a sofrer.
Animamos toda a gente a defender a nossa língua domingo. Mas também segunda, terça, quarta, quinta e sexta em manifestaçons, em Sementes, nos jornais, nos centros de trabalho ou nos centros sociais.
A Semente quer aproveitar também para anunciar o início dumha série de publicaçons de textos de actualidade sobre o ensino, que começa hoje com umha reflexom sobre o ensino comunitário.
A iniciativa popular no ensino
Talvez nom seja o melhor momento para reabordar o debate sobre ensino público e privado; pode ser que estes dias de cortes e privatizaçom do sector público nom convidem a apostar na criaçom dumha rede popular de ensino. Nada mais longe da nossa vontade que somar argumentos para o desmantelamento do sector público, quer seja educaçom, saúde ou a pouca indústria que fica sem privatizar. As activistas da Semente temos um longo historial em defesa dos serviços públicos do nosso país, pois entendemos que numha sociedade justa o lucro e a mercantilizaçom deveriam estar desterrados de actividades como o ensino ou a saúde. A nossa sociedade tem que desterrar o capital e a Igreja destes serviços. Mas também é certo que a nossa iniciativa nom se pode emarcar em nengumha dessas categorias -nem pública nem privada-, e cumpre explicarmos as reflexons que nos levárom a dar este passo.

Começaremos por dar um repasso da situaçom dos serviços públicos no nosso país, embora esta análise nom tem nada de original, mais bem será compartilhada por todas as pessoas comprometidas com a luita por uns serviços públicos galegos e de qualidade. Mas já vimos de indicar que nós também nos situamos nesse conjunto.

Se nos referimos à língua, o ensino público, especialmente nas cidades, leva anos a contribuir para a castenhanizaçom da sociedade. Nalguns casos é agente activo dessa castelhanizaçom e noutros nom consegue, apesar dos esforços dumha parte do professorado, reverter este processo, nem sequer fixar falantes da nossa língua.

Do ponto de vista dumha óptica minimamente progressista os ataques aos serviços públicos, bem sejam educativos (Galinhas Azuis geridas polo Opus Dei, infiltraçom de empresas na Universidade, declaraçons do Ministro Wert sobre a espanholizaçom do ensino na Catalunha…), de saúde (derivaçom de doentes da sanidade pública à privada, novos hospitais de Lugo e Ponte Vedra…), ou de outro tipo (a fraude da proteçom oficial na construçom de vivendas…), nom podem ser interpretados mais que como um novo passo no desmantelamento destes serviços para a assunçom dos mesmos por parte do capital privado. Isto suporá o empioramento das condiçons de trabalho do empregados e empregadas, mas também o empioramento do serviço.

A pergunta que nos surge é: Quanto estamos dispostos e dispostas a aguentar sem criarmos umha alternativa? O protesto é ineludível e justo, mas os ataques ao público nom som de agora. Levamos anos numha espiral que nos está a furtar direitos básicos e a frustraçom acumula-se. Precisamos, paralelamente a estas iniciativas, outras que nos permitam demonstrarmos que tipo de país queremos, que nos permitam construir. Que nos permitam dizer-lhes aos nossos amigos e amigas: Este é o tipo de Ensino que queremos para os nossos filhos e filhas. Para além de esforços voluntariosos individuais; para além de livros, artigos ou páginas web. Realidades.

Há pessoas que crem que perante estas agressons só existe um modo de actuaçom: protestos periódicos nas ruas e aguardar a umha chegada da esquerda nacional ao poder (e aqui que cada quem ponha o nome do que mais gostar). Mas quanto tempo falta para isso? E quanto tempo se precissa ininterrumpidamente no governo para mudar isto? Podemos permitir-nos todo esse tempo?

A nossa opiniom foi, e continua a ser, que é tempo de construir. Mas o que? Umha escola privada? Seria assim se definirmos o privado como o antónimo de público, mas isso implicaria assumir que os sindicatos, associaçons culturais ou desportivas, etc também o som. Em realidade a diferença encontra-se no lucro, em tirar talhada económica dumha necessidade. As iniciativas nom públicas, sem ánimo de lucro, e organizadas e geridas polos movimentos sociais chamam-se historicamente iniciativas comunitárias, ou populares.

As escolas do Movimento Sem Terra no Brasil, ou a criaçom de instituiçons paralelas às estatais no Cosovo som só dous exemplos internacionais de iniciativas populares. Outras naçons sem Estado desenvolvérom também escolas onde garantir o direito das crianças ao ensino na sua língua: as escolas Diwan na Bretanha, as Bressola na Catalunha Norte, e as ikastolas no País Basco som o exemplos mais próximos. Nem por isso renunciárom à reivindicaçom dum sistema público de qualidade, mas expressárom pola via dos factos que nom queriam um sistema público a qualquer preço, nomeadamente nom em troca de perderem a sua língua. Mesmo na País Basco, o êxito das ikastolas obrigou o Governo autónomo a um processo de publificaçom de muitas delas. Pode que seja este um bom exemplo de como tomar outro caminho para chegar ao lugar que todas queremos.

Mas a Galiza nom foi alheia a este tipo de iniciativas: cooperativas de consumo (como a fundada em 1903 em Sam Joám de Mugardos), economatos, o sindicalismo mais comprometido, som iniciativas que aderem à vontade dum povo que se organiza para criar rede, que nom quer esperar a que lhe dêm o que é seu. No eido da Educaçom, as escolas criadas com dinheiro vindo da emigraçom som um exemplo da generosidade de galegos e galegas que queriam um futuro para as suas filhas e filhos na sua terra. As Escolas de Ensino Galego, fundadas polas Irmandades da Fala da Corunha a começos do século XX, som também iniciativas populares para garantir o direito das crianças galegas a nom se sentirem estrangeiros no seu país.

Por isso, a nossa proposta é assumirmos a semántica histórica dos movimentos populares para negar umha dicotomia que nos aboca ao imovilismo. E proclamar que essas iniciativas nas que nos juntamos para criarmos o nosso futuro nom som privadas, mas comunitárias ou populares. Porque som os movimentos sociais quem as costruímos, e porque o fazemos para nós, as trabalhadoras e trabalhadores da Galiza.

O ano passado na associaçom cultural a Gentalha do Pichel crimos que em Compostela precissávamos umha escola que garantisse o direito das nossas crianças a expressárem-se em galego; um centro sem ánimo de lucro, cujo hipotético benefício económico revertesse na melhora do projecto e no crescimento do mesmo. Umha iniciativa na que existisse umha bolsa de solidariedade que garanta a nom exclusom de qualquer pessoa por motivos económicos. Financiada em parte por aportaçons de pessoas que, tenham ou nom crianças, achegam dinheiro mensalmente porque partilham a necessidade de dotar Compostela deste centro. Pessoas que queremos demostrar pola via dos factos a existência dumha comunidade que quer escola em galego. E agora temos a Semente. Umha realidade que agromou, e que está a crescer ao pé do Sarela.